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Este espaço se destina ao estudo, problematização e elaboração dos Formadores do Programa de Formação Continuada de Professores - ECOAR (Elaborando Conhecimento para Aprender a Reconstruí-lo)
Festança na floresta
Clarice Lispector*
Estamos no mês de junho, as fogueiras de São João se cendem, balões sobem, já há friozinho e aconchego. Dá para comer batata-doce à meia-noite com café tinindo de quente.
Mas me disseram que a festa não é só nossa. Pois não é que ia haver uma festa da bicharada na selva? E calculei que isso acontecesse no mês de nossos próprios folguedos. Pelo
menos é o que garantem os índios da tribo Tembé.
Foi assim: os animais das matas até que estavam ocupados e calmos em relação a seus deveres, pois o dever do animal é existir. Mas eis senão quando surgiu no ar um boato que
logo se espalhou alvissareiro num diz-que-diz assanhado. Vinha esse boato trazido pelo canto do sabiá. Como o sabiá, a quanto se sabe, canta pelo mero prazer de cantar, ficaram os bichos em dúvida sobre se era ou não verdade.
E – de repente – começou a chover convite para a tal festança. Quem convidava não dizia quem era, mas todos desconfiaram que a idéia vinha da rainha das selvas brasileiras, a onça, mandachuva que era. Todos os bichos foram convidados, garantindo-se que na ocasião seria abolida a ferocidade. Até a mãe-coruja, que de tão séria e sábia até óculos usava, foi
convidada com seus filhotes.
Quanto às filhas do macaco, doidas para namorar e enfim casar, enfeitaram-se tanto e com tantas bugigangas que pareciam umas – é isso mesmo, pareciam umas verdadeiras macacas.
E quem pensa que a cobra faltou por ser tão nojenta está enganado: apareceu fazendo salamaleques com o corpo escorregadio para chamar a atenção.
A noite estava toda iluminada por milhares de vaga-lumes, pela lua silenciosa e pelas estrelas úmidas. Quanto à orquestra, fiquem certos de que era da melhor qualidade: uma turma de tucanos encarregou-se de tocar em valsa os mais belos grunhidos da mata.
A bicharada estava acesa de alegria. O papagaio foi muito aplaudido quando berrou uma canção alegre, e as macacas casadoiras, penduradas pelos rabos nas árvores, estavam certas de que eram grandes bailarinas.
Bem, a coisa estava no máximo de animação. Mas a onça estava inquieta, doida para atacar. E como não fosse permitida nessa noite a carnificina, ela começou a ser feroz com a língua viperina. Então cantou: “Dona Anita é gorda roliça que nem uma porca e tem cor de rato”. A anta danou-se e retirou-se.
A onça, vendo que tinha tido sucesso, cantou uma ofensa horrível contra o jabuti, dizendo que este estava coberto de mosca varejeira. Tanto que o jabuti, ofendido, foi embora. Depois a onça falou: “Vejam que decote indecente o das filhas do macaco”. As macacas ficaram fulas da vida e só não saíram de lá porque a esperança de arranjar noivo é a última que acaba.
Mas acontece que havia entre os animais o deus dos veados. Arapuá-Tupana, que resolveu acabar com a empáfia da onça e para vencê-la pôs-se a cantar. Os bichos, sabendo que quando o ouvissem morreriam, taparam os ouvidos. Arapuá-Tupana afinal foi embora e a bicharada não morreu.
É. Mas os animais haviam perdido o dom da fala, ninguém se compreendia mais. E isso até o dia de hoje. Porque grunhir ou cantar não diz nada. Tudo por causa da onça linguaruda.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M2U7T15
A criação e a culpa
Mário Prata
Por que a culpa?
É o que eu tenho perguntado ao meu psicanalista de plantão.
No princípio era o verbo e eu achava que só eu me sentia culpado. Com o passar do tempo (e da verba) fui descobrindo que todo criador tem culpa. Não no cartório. Mas na consciência.
Vou tentar explicar.
Todo mundo acha que a pessoa que vive de criar, ou seja, um criador, não faz porra nenhuma o dia inteiro. Fica só pensando. É verdade. O problema é que ninguém considera o trabalho de pensar como trabalho. Daí a culpa ensimesmada. Será que só pode ser considerado trabalhador o sujeito que fica o dia inteiro numa mesa de escritório, ouvindo pela janela "olha a uva de Atibaia", "melancia barata, melancia barata"?
Você vê uma frase num out-door tipo "isso é que é". São quatro palavrinhas mágicas. O sujeito que inventou isso deve ganhar uma fortuna por mês. O que ninguém entende é que ele trabalha há vinte neste ofício. Pode ser que a frase tenha saído de um estalo. Mas um estalo vinte anos depois. Não precisa ser nenhuma brastemp para se ter uma idéia dessas. Ou precisa? Mas o povo pensa: ganhar essa fortuna para escrever uma bobagem dessas?
Cada vez que lanço um livro, estréio uma peça de teatro ou vou ao cinema ver um filme com roteiro meu, me dá pânico. Fico pensando: o pessoal vai pensar que eu escrevi isso na maior moleza. Que eu sou um vagabundo. E eu, realmente, fico achando que sou? Algumas mulheres trabalhadeiras já me jogaram isso na cara. E tome divã!
As crônicas, por exemplo. Escrevo uma vez por semana no Estadão e ganho mais que muitos coleguinhas que dão duro lá o dia inteiro e ainda fazem, de vez em quando, um plantãozinho de fim de semana. Fico com culpa. Sei que não devia, mas fico.
Para aliviar meu sofrimento, penso no Romário que "trabalha" umas doze horas por mês e ganha 100 mil dólares. Será que ele tem culpa? O Chico Buarque, que fica meses sem trabalhar, jogando futebol, será que ele acorda com culpa, vendo, todo dia, a sua mulher sair cedo e dar um duro danado no cinema, na televisão e ainda, de noite, fazendo um teatrinho?
Vou almoçar no Pé Prafora e quase emendo com o fim do dia. Bebendo cerveja. Mas pensando. Pensando nessas besteiras que vocês estão a ler agora. Depois, no fim do mês, vou receber a grana de um simpático funcionário que deve - com certeza - ganhar menos do que eu para trabalhar ali, o mês inteiro. Fazendo o meu cheque. Não tem jeito de não bater a culpa.
Fico pensando em Deus, que só trabalhou seis dias e tirou o sétimo para descansar. Mentira dele. Descansou o resto da vida. Ou você conhece mais algum trabalho dele nesses anos todos? Deve andar culpadíssimo. Mesmo porque, na hora de enfrentar o batente mesmo e apanhar na cara, mandou o filho. Este sim, trabalhou, deu duro e morreu pobre.
Eu, pelo menos, trabalho. Penso, invento, crio. E esses funcionários fantasmas, que trabalham em várias repartições e nunca comparecem? Será que eles não têm culpa? Será que só eu me sinto culpado neste país?
Uma vez perguntei para o Chico Buarque, que acabava de acordar às duas da tarde, se ele não tinha culpa. "Já tive. Superei". E o Caetano Veloso que nunca acorda antes das quatro (da tarde)?
Conta uma lendas que quando Einstein esteve no Brasil foi recepcionado pelo Austregésilo de Athayde. O imortal andava com um caderninho para ir anotando as idéias para seus livros e ensaios. Perguntou se o genial Eistein não fazia o mesmo. No que ele respondeu: "Não. Só tive uma idéia na vida". E o pior, é que essa idéia tinha só três letrinhas. Aquela famosa língua dele para fora denota um certo sinal de culpa. Deve ter morrido, relativamente, cheio de culpas.
Quanto menos escrevo e mais ganho, vou me sentindo, cada vez mais, subdesenvolvido e comunista. Quando deveria ser o contrário, como afirma o meu psiquiatra. Ele, por exemplo, não sente culpa nenhuma de ficar ouvindo os meus lamentos entre um bocejo e outro. Ou será que tem? Jamais saberei lidar com a culpa dele. Basta a minha.
Isso é que é!
Ei! Tem alguém aí?
Jostein Gaarder*
Ele se inclinou bem para frente, fazendo uma reverência. […] Perguntei:
“Por que você está se inclinando?’”
“Lá de onde eu venho”, explicou ele, “nós sempre fazemos alguma reverência, quando alguém faz uma pergunta fascinante. E quanto mais profunda for a pergunta, mais profundamente a gente se inclina.”
[…] a resposta me impressionou tanto que fiz uma profunda reverência, me inclinando ao máximo.
“Por que você me fez uma reverência?”, perguntou ele, num tom quase ofendido.
“Porque você deu uma resposta superinteligente para minha pergunta”, respondi.
Daí, numa voz bem alta e clara, ele disse algo que eu haveria de lembrar para o resto davida:
“Uma resposta nunca merece uma reverência. Mesmo que for inteligente e correta, nem assim você deve se curvar para ela. […] Quando você se inclina, dá passagem. […] E a gente nunca deve dar passagem para uma resposta. […] A resposta é sempre um trecho do caminho que está atrás de você. Só a pergunta pode apontar o caminho para frente”.
Achei que havia tanta sabedoria nas suas palavras, que precisei segurar bem firme meu queixo para não fazer outra reverência.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M2U2T3
Isto
Fernando Pessoa*
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
Ou que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M2U2T2
Bar Memória
Carlos Heitor Cony
Era um botequim feio, muito feio mesmo. Três portas esquálidas, paredes encardidas, balcão sórdido com empadas sinistras, d e longe se adivinhavam o mofo, as sombras, o vago cheiro de túmulo. O nome o salvava: Bar Memória. Nome inexplicável: o botequim nem merecia a classificação de bar. E por que memória? Quem nele se lembraria de alguém ou de alguma coisa? Pior: a quem dele se lembraria?
Sua importância era topográfica. Ficava numa terra-de-ninguém da cidade-cidade que cada vez mais se tornou terra de ninguém. Para os Correios e Telégrafos, o Bar Memória ficava no Jardim Botânico. Para os tributos estaduais e municipais, ficava na Gávea. Para a Receita Federal ficava. Policialmente, pertencia à 16ª Delegacia, do Leblon. Para o Corpo de Bombeiros, era o Jóquei. O Tribunal Regional Eleitoral o alistou como reserva democrática do Horto.
Sem sair do lugar, flutuando no chão da cidade, ele existia sem existir, escombro de um fantasma que não pertencia especificamente a nada e a ninguém. O Espaço imponderável, um assassinato ali cometido, com um bom advogado a favor do criminoso, jamais seria punido: faltaria. A localização exata para determinar o local do crime.
Estava sempre vazio, nunca vi luz que aliviasse sua penumbra. À noite, ele continuava fiel à escuridão, duas ou três Lâmpadas empoeiradas não iluminavam as paredes encardidas e tristes. A luz, trêmula e fria, tornava mais pesadas suas sombras.
Pois o Bar Memória foi abaixo, esta semana, Nos jornais, a foto conseguia transmitir sua solidão de bar, sua escuridão de memória. A escavadeira do município rasgou sua carne cansada, estralhaçou seu ventre de trevas. O Bar Memória se desmanchou sem resistência, sem dar um grito.
E como seu chão era imponderável, ele continuará imponderável. Ficará intacto no meio da nova pista que dará acesso à Barra. Não deixará saudade. Não deixará memória, o Bar Memória.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M3
A primeira cartilha*
Moacyr Scliar *
Há coisas que a gente não esquece: a primeira namorada, a primeira professora, a primeira cartilha. Minha introdução às letras foi feita através de um livrinho chamado Queres ler? ( assim mesmo, com ponto de interrogação). Era um clássico, embora clássico, embora tivesse alguns problemas, em primeiro lugar, tratava-se de um livro uruguaio, traduzido (o que era, e é um vexame, cartilhas, Pelo menos, deveriam ser nacionais). Em segundo lugar, era uma obra aberta e indiscreta, trazia introduções pormenorizadas sobre a maneira pela qual os professores deveriam usar o livro com os alunos. Quer dizer: era, também, para os professores, uma cartilha, o que, se não chegava a solapar a imagem dos mestres, pelo menos os colocava em relativo pé de igualdade com os alunos (pé de igualdade, não; menos. Pé de página, e em letras bem pequenas). Isto talvez fosse benéfico, porque um estímulo tínhamos par aprender a ler: ansiávamos pra descobrir os segredos dos mestres.
Em terceiro lugar – mais isto era grave -, a cartilha começa com a palavra uva. Com a palavra só, não havia uma ilustração mostrando um grande, suculento, lascivo cacho de uvas (estrangeiras, naturalmente). Era um suplicio olhar aquelas uvas (aliás, à época, uva designava, e não por acaso, uma dona boa). Principalmente para os alunos mais pobres cujo único contato com o fruto da videira era exatamente através daquela figura.
Bem, mas não é isto o que importa. O que importa é que aquele era o nosso primeiro livro, o livro que carregávamos com orgulho em nossa pasta. E o que importa, também é que esse livro, o livro que mais esqueceríamos, tinha um nome provocadoramente amável: ele não ordenava, ele perguntava; ele não só perguntava, ele convidava. E não sei de que outra maneira se possa introduzir uma criança à leitura, se não através de um sedutor convite. Porque ler é que um ato da vontade. Diante da TV se pode ficar passivo, absorvendo imagem e sons. A TV não indaga, ela se impõe. E pode se impor por causa da força de uma tecnologia que é absolutamente totalitária: do universo eletrônico no qual vivemos ninguém escapa.
Ler, não Ler exige esforço, No mundo da leitura só se entra pagando ingresso.
Decodificar as letras transformá-las em imagens é uma arte, como é uma arte tocar um instrumento musical. Mas que entram no mundo da leitura, aqueles que a eles são bem conduzidos, estes encontram nos livros um lar, uma pátria, o território dos sonhos e da emoções.
Queres ler? – pergunto a meu filho, e espero que a resposta dele seja afirmativa. Para que ele possa provar a uva da qual é feito o doce vinho da fantasia arrebatadora.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M3
Retrato em branco e preto
Tom Jobim e Chico Buarque*
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes, velhos fatos
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu, de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Para lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
* Ed. Musical Arlequim Ltda, 1968.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M2U6T3
Não sabia que era preciso
José Saramago*
Ao contrário do que afirmam os ingênuos (todos o somos uma vez por outra), não basta dizer a verdade. De pouco ela servirá ao trato das pessoas se não for crível, e talvez até devesse ser essa a sua primeira qualidade. A verdade é apenas meio caminho, a outra metade chama-se credibilidade. Por isso há mentiras que assam por verdades, e verdades que são tidas por mentiras.
Esta introdução, pelo seu tom de sermão da quaresma, prometeria uma grave e aguda definição de verdades relativamente absolutas e de mentiras bsolutamente relativas. Não é tal. É apenas um modo de me sangrar em saúde, de esquivar acusações, pois, desde já o anuncio, a verdade que hoje trago não é crível. Ora vejamos se isto é história para acreditar.
O caso passa-se num sanatório. Abro um parêntese: o escritor português que escolhesse para tema de um romance a vida de sanatório, talvez não viesse a escrever A montanha mágica ou O pavilhão dos cancerosos, mas deixaria um documento que nos afastaria da interminável ruminação de dois ou três assuntos erótico-sentimentalo-burgueses. Adiante, porém, que esta crônica não é lugar de torneios ou justas literárias. Aqui só se fala de simplezas quotidianas, pequenos acontecimentos, leves fantasias – e hoje, para variar, de verdades que parecem mentiras. (Verdade, por exemplo, é o doente que entrava para o chuveiro, punha a água a correr, e não se lavava. Durante meses e meses não se lavou. E outras verdades igualmente sujas, rasteiras, monótonas, degradantes.)
Mas vamos à história. Lá no sanatório, dizia-me aquele amigo, havia um doente, homem de uns cinqüenta anos, que tinha grande dificuldade em andar. A doença pulmonar de que padecia nada tinha que ver com o sofrimento que lhe arrepanhava a cara toda, nem com os suspiros de dor, nem com os trejeitos do corpo. Um dia até apareceu com duas bengalas toscas, a que se amparava, como um inválido. Mas sempre em ais, em gemidos, a queixar-se dos pés, que aquilo era um martírio, que já não podia agüentar.
O meu amigo deu-lhe o óbvio conselho: mostrasse os pés ao médico, talvez fosse
reumatismo. O outro abanava a cabeça, quase a chorar, cheio de dó de si mesmo, como se pedisse colo. Então o meu amigo, que lá tinha as suas caladas amarguras e com elas vivia, impacientou-se e foi áspero. A atitude deu resultado. Daí a dois dias, o doente dos pés chamou-o e anunciou-lhe que ia mostrá-los ao médico. Mas que antes disso gostaria que o seu bom conselheiro os visse.
E mostrou. As unhas, amarelas, encurvavam-se para baixo, contornavam a cabeça dos dedos e prolongavam-se para dentro, como biqueiras ou dedais córneos. O espetáculo metia nojo, revolvia o estômago. E quando perguntaram a este homem adulto por que não cortava ele as unhas, que o mal era só esse, respondeu: “Não sabia que era preciso”.
As unhas foram cortadas. Cortadas a alicate. Entre elas e cascos de animais a diferença não era grande. No fim de contas (pois não é verdade?), é preciso muito trabalho para manter as diferenças todas, para alargá-las aos poucos, a ver se a gente atinge enfim a humanidade.
Mas de repente acontece uma coisa destas, e vemo-nos diante de um nosso semelhante que não sabe que é preciso defendermo-nos todos os dias da degradação. E neste momento não é em unhas que estou a pensar.
* A bagagem do viajante . São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
Fonte: MEC. Ministério da Educação. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA. Coletânea de Textos M2U6T1
"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim, esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa, aquieta e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
(João Guimarães Rosa)
As vezes deixamos os momentos significativos passar e não percebemos, como empinar pipa, me dei conta que nunca me interessou tal atividade que hoje poderia está desenvolvendo com meus filhotes. Na vida também é assim, temos que vivenciar sempre coisas novas, ser criativo, ousar e não temer, pelo menos testar para ver se da certo, esse é o sentido da descoberta, do aprendizado e do trabalho com o outro.
ResponderExcluir"Recordar é viver". Vivenciamos isso intensamente na manhã de ontem. Além disso, tivemos a oportunidade ímpar: construimos um objeto que remonta uma fase lúdica e de alguma forma, egocêntrica. Entretanto, compartilhamos, dando voz e vez ao outro (parceiro de assessoramento ou não). Isso foi lindo!
ResponderExcluirEsse compartilhar deve fazer parte do nosso trabalho com os professores e com os alunos, pois temos muito a ensinar e a aprender com esses sujeitos.
Deixemos a criança que vive em nosso inconsciente soltar pipas (ir e vir, correr, vibrar), mas perceber também que é necessário pensar para agir em determinados momentos, ter cautela para conseguirmos alcançar metas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCom certeza tive boas lembranças de minha infância durante a confecção do "papagaio", e as aprendizagens de criança serviram durante o momento da formação.
ResponderExcluirDentre as diversas reflexões que fiz durante a confecção das "pipas", a importância das novas experiências, da criatividade, da ousadia, da vontade, da troca de conhecimentos com o outro e a dúvida na confecção da pipa (vai subir ou não?), serviram para mostrar que a cada etapa devemos estar dispostos a aprender e ajudar o próximo, o outro, o colega de trabalho.
Isabel, Lucia e Mauro
ResponderExcluirOs comentários de vcs mostram que a atividade serviu para que voltássemos a ser crianças. RECORDAÇÃO, DESCOBERTA, COMPARTILHAR COM O OUTRO, DÚVIDA fizeram parte deste momento de aprender. Tudo isso com alegria.
O momento de confecção de "pipas e papagaios" me remeteu as boas lembranças da infância. Apesar de naquela época minha posição ser mais de observadora de meus irmãos ao construirem e colocarem no ar seus brinquedos, pude perceber que algum conhecimento havia construído. isso foi muito bom, pois nos permitiu partilha, troca, ajuda, confronto de idéias e construção de novos saberes de forma prazerosa. Penso que essa característica deve estar sempre presente quando se almeja sucesso de um trabalho em grupo como é o caso do Grupo-base da SEMEC-Belém.
ResponderExcluirNão tive como participar da atividade interativa mas, no entanto, apreciando alegria e satisfação dos colegas empinando suas pipas me veio uma reflexão do qual sinto falta em algumas escolas. O trabalho cooperativo enriquece a ação, habilidade importante que precisa ser mais vivenciado no espaço educativo.
ResponderExcluirSocorro e Vania, suas reflexões reforçam a ideia de que se a aprendizagem é mediada pela ação e cooperação. :-)
ResponderExcluirRecordar é viver. Minha infância, como de muitas pessoas da minha idade, foi passada entre as brincadeiras de casinha, no quintal, entre a construção de pipas de dia ou na rua até tarde da noite (claro, o tarde daquele tempo, era 21h). NOs encontramos agora adultos e ver que o que vivenciamos, as expressões usadas nas brncadeiras, fazem parte do universo de muitos, mesmo que tenhamos vindo de bairros, cidades ou estados diferentes. As experiências se encontraram na vivência atual de nossas vidas, no fazer do trabalho coletivo.
ResponderExcluirPoooxa que dinâmica maravilhosa!! infelizmente perdi e logo eu que gosto tanto de jogos, dinâmicas, atividades lúdicas, prazerosas...
ResponderExcluirJa agora fico me perguntando como é vasto e enriquecedor nossa cultura: Uns chamam pipa, outros papagaio, rabiola, outros ainda cangula...
Penso que essa diversidade é o que nos faz crescer e procurarmos ainda mais conhecer o novo e ousar novos ares.
Icaro(na mitologia grega) foi um ousador quando teve o desejo de voar.
Que façamos nossos Sonhos de Icaro voarem sempre mais e mais....
Renato Pinto
O desafio foi muito bom,penso agora que as crianças sentem-se do mesmo jeito quando propostas a escrever.A confecção da pipa necessitou de cooperação, divisão de tarefas, busca de consenso e todos esses itens devem estar presentes em um trabalho compartilhado como o nosso de formadores.
ResponderExcluirPela primeira vez fui desafiada a confeccionar uma pipa. Uma experiência que resultou em diversão, conhecimento e trabalho coletivo.
ResponderExcluirOs alunos também precisam desses momentos! Por isso vamos continuar investindo nos nossos encontros mensais e nossos assessoramentos que caminham nessa direção.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUm jornal é melhor do que uma revista. um cume ou encosta é melhor do que uma rua. No início parece melhor correr do que anda. É preciso experimentar várias vezes. Prega várias partitas, mais é fácil de aprender. Mesmo as crianças podem achá-lo divertido. Uma vez com sucesso, as complicações são minimizadas. Os pássaros raramente se aproximam. Muitas pessoas, às vezes, fazem-no ao mesmo tempo, contudo isso pode causar problemas. É preciso muito espaço. É necessário ter cuidado com a chuva, pois destroi tudo. Se não houver complicações, pode ser muito agradável. Uma pedra pode servir de âncora. Se alguma coisa se partir, perdemo-lo tudo e não teremos uma segunda chance. (LEVINE, 1994)
ResponderExcluirSe você leu e não entendeu, leia novamente usando o título "Pipas".
Muitas vezes nós professores tentamos ensinar algo aos nossos alunos e não deixamos claro o que queremos ensinar ou apresentar, muitos alunos realizam atividades sem saber o que é, do que se trata e nem para que serve. Temos que ter esse cuidado quando estamos apresentando algum conteúdo em sala de aula.
A dinâmica desta formação utilizando a construção de pipas (que não participei, infelizmente) me reportou a este texto que apresento a vocês.
há, outra coisinha, uma vez perguntaram como se chama uma criança que empina pipa? e eu respondi: se chama, criança feliz. sorte a minha ter tido a oportunidade de quando crinça, deixar um pouco o caderno de lado e ter aprendido a fazer, empinar e perder as pipas, pois quando perdemos nesse caso, aprendemos a perder de cabeça erguida.
Não pude estar na atividade mas já trabalhei com meus alunos e, foi necessário colaboração, coletividade, divisão de tarefas e acima de tudo construção e reconstrução a partir de um novo olhar que foi o da matemática.
ResponderExcluirConcordo com Elienai nas suas colocações e reitero-as quanto ao cuidado que devemos ter com determinadas situações e dinâmicas que realizamos. Há coisas que estão guardadas, adormecidas e que não aparecem, mas um pequeno sopro faz com que acordem, apareçam e nem sempre somos capazes de fazê-las adormecer novamente.
Eu, como a maioria dos colegas que aqui postaram comentários sobre esta atividade, relembramos com muitas saudades o ato de construir e empinar pipas, papagaios, rabiolas, cangulas ou pandorga(como diz meu meu marido gaúcho). Tudo vale neste país de tantas diversidades.
ResponderExcluirEsta atividade me fez relembrar também uma experiência que realizei com meus alunos das Turmas de Aceleração (no Liceu), onde assumi neste dia o papel de "aprendiz", ou seja, eles foram os meus Mestres nesta atividade. Estes alunos deram um verdadeiro show!!
Atividade esta que com certeza foi inesquecivel para eles e para mim, provando mais uma vez que as atividades lúdicas são muito significativas e
capazes de promover aprendizagens prazerosas e com sucesso, para crianças, como para pessoas de qualquer idade.
"Vamos brincar??!!... Beijos a todos.
Não tive a oportunidade de participar desta atividade, no entanto, acredito que o trabalho em equipe, de forma cooperativa e colaborativa, acrescenta muitos aos membros da equipe, uma vez que cria vinculo, desenvolve o espírito de equipe e mostra a necessidade do outro para que nosso trabalho tenha melhor resultado.
ResponderExcluirValéria Risuenho
Infelizmente não participei dessa atividade, pois não era integrante do Grupo Base neste momento. Mas acredito que a atividade queria que o grupo percebesse a importância de se trabalhar em grupo e fazer um projeto decolar ou voar.Este feito só é possivel com a colaboração de todos os envolvidos. A construção de uma pipa pode oarecer muito fácil para alguns e colocála no ar também, porém sabemos que qualquer atividade com colaboração é bem mais gostosa e gratificante. Pensamos então em nossas atividades com professores que também é uma tarefa dificil mas se fizermos em equipe torna-se momentos preciosos de aprendizagem.
ResponderExcluirEsta foi uma experiência ímpar, pois vivenciei uma situação de aprendizagem, lazer, interação e interrelação inédita. Podemos refletir sobre a nossa prática de Formador, na qual precisamos aprender a lidar com as situações adversas, pois nem sempre podemos contar com as condições ideais no desenvolvimento das nossas ações. As dificuldades e adversidades existem para ser enfrentadas, minimizadas ou superadas. Não podemos nos deixar paralizar diante delas. Também não podemos dá sempre o "jeitinho" e se contentar com as condições desfavoráveis. Para isso é importante replanejar, rever conceitos, trabalhar cooperativamente e buscar sim, melhores condições, estudar, pesquisar e refletir sobre nossa prática. O resultado nem sempre sai do jeito que queremos, mas é importante buscar apoio da cordenação e de outros colegas, para superar as dificuldades e continuar avançando.
ResponderExcluirAté o momento presente, não tinha feito o registro por não ter participado desta lúdica vivência que é a construção e o enpinar uma pipa. No entanto, após ler os comentários dos colegas, especialmente, do Elienae, Vânia e Valéria, que também não participaram desta atividade, pude compreender o quanto é possível contribuir com suas memórias, sentimentos e reflexões a partir do olhar do outro. Pois bem, no momento em que os colegas experimentavam o prazer de ver suas pipas no ar, eu pude observar, através da janela do laboratório do NIED, o envolvimento e a satisfação do grupo com esta atividade, e como bem disseram Isabel e Maricilda "recordar é viver", naquele momento, todos pareciam estar em outro tempo/lugar que não o de trabalho, provavelmente em suas infâncias. Magia possibilitada pela brincadeira, e isso foi lindo.
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